segunda-feira, agosto 23, 2010

The owl killers

Autor: Karen Maitland
Género: Ficção Histórica Medieval
Idioma: Inglês
Editora: Penguin Books
Páginas: 568
Preço: € 7,61
ISBN: 978-0-141-03189-7

Avaliação: **** (bom)

Estamos em Inglaterra, no ano da graça do Senhor 1321, na época denominada de Idade das Trevas.

É um período marcado por um desenvolvimento quase nulo, onde reina a miséria, os jugos clerical e feudal, o totalitarismo e a superstição. A ciência é vista como um absurdo, não havendo espaço para o pensamento intelectual e filosófico; imperam, ao invés, a ignorância, o preconceito e o medo do desconhecido e do que é diferente.

É neste cenário que a autora coloca as personagens de The Owl Killers, mais concretamente na aldeia de Ulewic, o que em inglês medieval significa "o lugar da coruja". Em Ulewic, duas forças debatem-se pelo controlo da populaça: a Igreja cristã e os pagões Owl Masters, homens da terra que se vestem com túnicas e máscaras de coruja e coagem os habitantes a manterem os hábitos antigos de adoração aos deuses.

O povo trabalha a terra para o nobre que detém a posse do latifúndio, paga os seus inúmeros impostos e dízimos, e tenta sustentar-se e à sua família. Não há sistema de saúde, nem subsídios, nem ajudas estatais, a vida é dura, cruel e não se compadece daqueles que têm recaídas ou momentos de azar. Estamos em 1321 e cada um tem lutar arduamente pela sua sobrevivência.

Quando Ulewic e os arredores são atingidos pela peste, a vida fica (ainda) mais difícil. O gado adoece e morre, algumas crianças não resistem à fome e infecções, o padre do lugar não sabe como amparar os paroquianos. Com os estômagos vazios, desmoralizados e cada vez mais indigentes, os populares procuram a origem da sua má sorte e viram-se contra um grupo de beguinas que se instalou recentemente em Ulewic.

As beguinas vivem num mosteiro, um pouco afastadas da aldeia. Dedicam-se à caridade, ao cuidado dos pobres e doentes, mas sem vínculo a votos de clausura como as freiras. Cada beguina tem uma função no beguinário e trabalha para o bem colectivo. As beguinas são autónomas e providenciam a sua subsistência: trabalham a terra (cereais, algodão), vendem o que produzem, conhecem as ervas e os unguentos. Durante anos, foram toleradas e deixadas em paz pela Igreja, mas em 1311, são consideradas hereges e ostracizadas daí em diante.   

Em Ulewic, não encontram inicialmente um ambiente hostil na medida em que ajudam a população com comida e dinheiro, mas rapidamente passam a bode expiatório, acusadas de atraírem a ira divina pelo seu modo de vida independente.

A história é narrada por várias personagens: Servant Martha, a líder das beguinas; o padre da aldeia, Ulfrid; Osmanna, a filha do senhor feudal que é acolhida pelas beguinas quando é expulsa pelo pai; Beatrice, uma beguina abrasiva e revoltada com a sua infertilidade; e ainda uma criança da aldeia, Pisspuddle.

Toda a acção é pontuada por uma envolvente e intrigante mistura de elementos cristãos e pagãos, com muita bruxaria e superstição à mistura. As personagens têm uma voz diferente entre si e são todas muito interessantes, o que facilita a leitura do livro e a compreensão do que se passa, com as diferentes perspectivas a complementarem a história. O livro tem tantos pormenores e sub-enredos que o tornam delicioso que é impossível não o apreciar.

Tudo somado, The Owl Killers é uma leitura viciante e impossível de largar, que recomendo vivamente.